[Leitura] Caderno de um Ausente

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Caderno de um AusenteAutor: João Anzanello Carrascoza
Série:
Editora: Cosac & Naify
Ano:2014
Paginas: 128
Avaliação: 4/5


Neste segundo romance, a estrutura formal continua a ser a principal pesquisa literária do autor. Como o título traz, o narrador desta história, um homem de cinquenta e tantos anos, escreve em um caderno anotações de vida para sua filha recém-nascida, Beatriz. Temeroso de que não acompanhará a maturidade da filha, uma vez que a diferença de idade é muito grande, o homem se põe a narrar a história da família entremeando por impressões filosóficas e poéticas sobre a trajetória de uma vida. A intenção do pai, porém, não é mostrar uma verdade, mas sim a delicadeza - "e eu só sei, Bia, que, em breve, não estaremos mais aqui, e, enquanto estivermos, eu quero, humildemente, te ensinar umas artes que aprendi, colher a miudeza de cada instante, como se colhe o arroz nos campos, cozinhá-la em fogo brando, e, depois, fazer com ela um banquete".Mas mesmo essas palavras, que compõem pequenos trechos escritos ao longo do primeiro ano de vida da criança, não são suficientes para satisfazer o pai - "eu ia te contar o segredo do universo como quem sussurra uma canção de ninar, mas eu não posso, filha, eu só posso te garantir, agora que chegastes, a certeza da despedida".
No texto deste "caderno", o leitor pode acompanhar também a inquietação do pai, ao longo de um ano, pela saúde da mãe de Bia, que vive doente e requer cuidados tanto quanto a criança. O leitor irá reparar que o texto diagramado apresenta espaços em branco ao estilo de Dos Passos - além de expressarem os vazios que a ausência já ocupa, são hesitações deste pai ao tentar escrever a educação sentimental para a filha.
Quando vivencio algum momento feliz, principalmente momentos aqueles pequenos aos olhos dos outros mas que me fazem parar por um segundo e agradecer a vida, daqueles em que eu tiro um fotografia na minha mente , porque se eu fosse pegar uma câmera não ia dar tempo........... passou. Daqueles em que o tempo parece desacelerar, enquanto teu próximo está vivendo um segundo você vive esse segundo em dois, é desses momentos as quais me refiro.

Quando os vivo, ao mesmo tempo que eu aproveito também sofro. Sinto saudades do presente, sinto saudade do que ainda não acabou, que loucura! Parece impossível, mas não. 

Certa vez no aniversário da minha filha, uma festa modesta, poucos convidados mas muita diversão. Quando todos foram embora minha mãe me olha e fala : "Taisa!! Nossa! Não tiramos nenhuma foto!". O primeiro sentimento que seria suposto eu sentir era o pesar mas eu fiquei feliz. MUITO feliz! Não tiramos foto porque simplesmente não deu tempo, todos conversamos, brincamos nos divertimos, o wifi era livre mas parecia uma época em que a internet ainda era discada, uma época em que não tínhamos necessidade de demonstrar aos nossos 23823892389273 "amigos" o quanto nossa vida é divertida.

Sei que laconismo não é uma característica que possuo, 195 palavras até agora e parece que não falei nada sobre o livro não é?

Não é bem assim.

Caderno de um Ausente é isso. Me fez reviver esses momentos, a maneira como o autor vai qualificando esses pequenos flashs, dando importância ao que é merecido. O caderno pode ser de um suposto ausente, mas no momento em que ele denomina assim só destaca o quanto ele valoriza a presença. Recordei de tanta coisa boa! Uma viagem em família no meio de rolos de tecido,uma época em que a responsabilidade era irresponsável e tudo era aventura, uma cabana de toalha de mesa do lado de for da casa, bolinhos de terra, um banho de chuva.

Nosso narrador na casa dos seus 50 anos sente que pela sua idade avançada ficará em divida com sua recém nascida filha, Beatriz. Acha que o tempo por ele a ser vivido não será suficiente para ensinar tudo que gostaria nem lhe mostrar toda a trajetória de sua família, resolve então escrever esse “diário” . Ele junta algumas fotos e com sua narrativa quase lírica vai juntando peças da sua vida com outras tantas da sua experiência . 

O livro é muito lindo, nunca tinha lido nada do João Anzanello Carrascoza e me apaixonei pela forma que ela usa as palavras. É prosa mas tem uma delicadeza de poesia, uma beleza melancólica difícil de encontrar, flerta com a morbidez mais ainda é bonita.

Achei tão interessante o que ele fala sobre as palavras, exalta sua importância mas também a ausência delas. O livro é curtinho e não perde tempo, muita coisa é dita, me senti assim, não em uma leitura e sim numa conversa, com o autor, comigo, minhas histórias e meus projetos.

Logicamente não serão todas as pessoas que terão a mesma experiencia, mesmo assim não vou cansar de recomendá-lo.❤

Ps.: Só para complementar, esse livro ganhou em segundo lugar o Premio Jabuti de 2015 na categoria Romance. Se você tiver interesse maior sobre o autor clica aqui que tem tudo sobre ele, entrevistas, obras, vida, tudo. 

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