[Leitura] Dois Irmãos

Leave a Comment
Dois irmãosAutor: Milton Hatoum
Editora: Companhia das Letras
Ano: 2006
Páginas: 200
Avaliação:  4/5

"Dois Irmãos" é a história de como se constroem as relações de identidade e diferença numa família em crise. É a história de dois irmãos gêmeos - Yaqub e Omar - e suas relações com a mãe, o pai e a irmã. Moram na mesma casa Domingas, empregada da família, e seu filho. Esse menino - o filho da empregada - narra, trinta anos depois, os dramas que testemunhou calado. Buscando a identidade de seu pai entre os homens da casa, ele tenta reconstruir os cacos do passado, ora como testemunha, ora como quem ouviu e guardou, mudo, as histórias dos outros. Do seu canto, ele vê personagens que se entregam ao incesto, à vingança, à paixão desmesurada. O lugar da família se estende ao espaço de Manaus, o porto à margem do rio Negro: a cidade e o rio, metáforas das ruínas e da passagem do tempo, acompanham o andamento do drama familiar. Prêmio Jabuti 2001 de Melhor Romance.
Por que somos o que somos? Como nossa individualidade é construída? Sem dúvida infinitas variáveis vão compor a nossa singularidade, o que nos difere do outro é as escolhas que fazemos. E a quem devemos culpar pelas escolhas? Os pais? Suas bagagens e criação? Talvez a culpa seja da química, uma pessoa faminta faria a mesma escolha quando alimentada? E apaixonada? E desesperada? Essa é a grande maravilha do ser humano, somos imprevisíveis, quando os dados são lançados tudo é possível.

"Só o tempo transforma nossos sentimentos em palavras mais verdadeiras..."

Milton Hatoum vai colocar uma lupa em cima desta e tantas outras questões. A ideia de gêmeos nos remete a igualdade, teoricamente é a mesma pessoa em dois indivíduos distintos, e no caso desses "dois irmãos" bota distinção nisso.

Há normalmente um ar competitivo natural entre irmãos, mas aqui isso é elevado a um outro nível. O DNA compartilhado não é suficiente para fazê-los se entenderem e como na vida real foi difícil distinguir exatamente onde foi que tudo começou a dar errado.

A narrativa é feita de modo não linear, a todo momento uma nova verdade é revelada e vivemos sempre no limite, a tensão dessa família desestruturada é tão palpável que mesmo já sabendo como vai terminar (uma vez que a primeira cena é a final) fica difícil se desprender emocionalmente e não querer saber como eles chegaram aquele ponto.

"´Louca para ser livre'. Palavras mortas. Ninguém se liberta só com palavras"

Omar ( O Caçula) é o imprevisível, impetuoso e bon vivant , mas era o silencio de Yaqub que me deixava inquieta. Enquanto o primeiro deixava claro suas loucuras o segundo era uma incógnita, durante toda a leitura ficava questionando todas as suas ações, eram verdadeiras? Qual dos dois era o vilão? Existe um vilão?

Ninguém é totalmente bom nem totalmente mau e apesar de obter a maioria das respostas que eu queria muita coisa ficou no ar para reflexões. Fica claro o quanto a família pode corromper um ao outro, pais tentam justificar ações injustificáveis de seus filhos, o limite entre  proteção e a lição é muito tênue e dolorosa, cada uma vai cobrar seu preço.

Por outro lado somos indivíduos, pensantes, conscientes e já sabemos distinguir o certo do errado, podemos colocar a culpa nos pais, na crianção, na química, na biologia em que quisermos, mas a escolha vai ser sempre NOSSA. E novamente o preço vai ser cobrado.

Além de todo essa drama familiar o livros possui o pano de fundo de uma cultura manauara riquíssima, somos imersos em uma Manaus linda com suas cores, pessoas e sabores em  uma época triste e conturbada que era a ditadura no Brasil.

Eu amei! É um livro muito visceral que tirou muito de mim mas me deu também, foi uma troca maravilhosa. Altamente recomendado, orgulho de ser nacional ❤.

"Alguns dos nossos desejos só se cumprem no outro, os pesadelos pertencem a nós mesmos."


0 comentários:

Postar um comentário

Tecnologia do Blogger.